O mundo é injusto. Uma vez eu quis ter uma banda de Rock. Eu era adolescente e sonhava em encantar as meninas com um puro "Rock n´ Roll" estilo Beatles. Meus sonhos (e os cabelos) começaram a ruir quando percebi que não havia astro do Rock careca. Fui fazer um teste pra uma banda da escola. Disse: quero cantar. E os caras riram. Como? Com essas entradas? Levei um choque. Eu ainda não tinha notado elas, pois que há coisas que nos recusamos a enxergar mesmo que estejam à nossa frente, gritando. Ainda assim, insisti. O que tem a ver cabelos e musicalidade? Os caras me convenceram. O Rock é cabeludo, bicho! Como eu iria rodar a cabeça no meio de um solo de guitarra e mostrar toda a rebeldia da minha geração? Como iriam estampar na capa de um disco um cara como eu? Não dava. Não vendia. Mude o estilo, recomendaram. Toque samba. Bolero. Quem sabe uma Seresta? E riam muito. Riam, enquanto mexiam em suas longas madeixas. Triste. Na saída, ainda ouvi comentarem entre eles: Porque não tenta uma vaga no "NENHUM DE NÓS"? No "PLACA LUMINOSA"? No "UNS E OUTROS"? Vá lá, no "HERÓIS DA RESISTÊNCIA"! E foi assim, que minha promissora carreira de músico sequer começou. É bom deixar bem claro que meu pai não é careca. Nem minha mãe. Sim, como eu disse, o mundo é injusto. Meu pai tem uma vasta cabeleira. Tem topete. E quase nenhum cabelo branco. O que me faz pensar que essa pouca-telhice talvez não seja hereditária, como dizem os especialistas. Cabelo é uma coisa muito estranha. Dizem que quando você morre, os cabelos não param de crescer. Continuam, durante um tempo. Você tá lá, mortinho da silva, debaixo da terra e eles, crescendo. Se fizer a exumação de um cadáver é capaz de se deparar com uma caveira cabeluda. Bizarro. No meu caso, eles morreram antes mesmo de mim. Injusto!
Desventuras de um desprovido de cabelo! Crônicas de Marcos França. 2011. Todos os direitos reservados.
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
De como o sonho de ser um cantor de Rock foi por água abaixo.
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